domingo, 22 de março de 2015

Silêncio III

no silêncio mora a saudade que dói mas não responde,
o desejo que magoa e se acomoda,
uma coragem renovada que se intimida,
um sorriso de esperança sem direção,
um caminho que se fomenta,
trajeto de compreensão,
sensação.
todo o silêncio é feito de sentidos,
perdem-se nos destroços,
ecos mercantes que se tumultuam.
não há prazer maior que o silêncio em pleno.
sentir vazio numa noite fria é sentir a natureza humana a ouvir-se pelas mãos e pelos braços,
um toque com a essência,
existência.
sentir não necessita ruído.
pensar é ruído.
pensar é ouvir o silêncio num burburinho interno.
pensar é procurar silêncio.
um pensamento compreendido,
silêncio.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Paisagem II

sou da cor do que vejo,
paisagem envelhecida num retrato de sala,
jardim de meia luz,
brisa perdida no desejo.
sou o sol pelo fim da tarde,
cortina de fogo que abraça o silêncio,
pálida montanha a poente estendida,
breve contemplação sem alarde.
sou um riso desvairado,
barco que dança na onda mais leve,
rio perdido pela saudade do norte,
mar que balança ao longe deleitado.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Caos

não há destino que nos pertença,
somos seres em caos!
o caos de querer,
desejar, sentir…
verdadeiro impulso.
somos moléculas em colisão,
energia revigorada com a vontade,
química sentida em tempo corrente,
medos que colidem,
sonhos que se enlaçam,
uma conjugação.
não é o destino, é o caos!
caos na caça e na fuga,
caos na procura e na ocultação,
caos no amor e na tragédia…
rodamos este mundo e ele roda conosco,
fazemos nossa jornada entre a partícula mais pequena
e o universo que balança
silenciosamente pelo céu eterno.
o caos cria,
o caos transforma.


o caos obriga-nos a correr.


o caos dá-nos vida,
o caos dá-nos sorte
e azar,
dá-nos fluxo,
não paramos!
somos caos,
até à morte.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Espera

espera o silêncio em casa escura,
coragem desfeita de sentido.
cansa a calma com a ternura,
jovem tédio que se quer perdido.
espera a sorte rotação perfeita,
jogo de corpos numa dança vulgar,
canta a vida esperança suspeita,
vontade certa que se quer singular.
(des)espera o desejo furtivo,
motor que dá vida em movimento
e cresce a palavra de cultivo
num amanhã perene de alento.