sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Aqui vive um mundo

    Não é o som que incomoda. Não é a cadência, que move e doméstica em quebra, que me interdita. Esse burburinho melódico que se mostra em minha memória, não tende a calar-se, não se distancia da invenção. Trata-se de uma pulsão à cata do eterno. 
    É nos versos apartados da origem e nos rituais de ficção que eu acredito. Nessa noção metida a modo na métrica. Modelar a forma do caos apropria o meu contentamento. Sem lamento, desaprovação ou contradição. Apenas a intenção e a procura do belo jeito da consciência. 
    Por outro lado, a partilha abandonou o sentido. Já são poucos os que olham para esta ficção e a florescem com significado. Esta arte que se sustenta da consciência e do tempo aparenta-se desnutrida e isolada. Fica a azáfama de colheitas pouco maduras. Sobressai a velocidade, o despropósito e a fotogenia.
    Resta-me parar e enaltecer a cantiga. Exaltar minha noção e seu preceito. A criação pela criação. Distante do negócio adulterado, do acordo corrompido e adornado de descrença. 
    Aqui vive um mundo que cabe dentro do seu próprio mundo.