terça-feira, 20 de agosto de 2019

Sol


Confronto com o mesmo sorriso as cores do verão, neste sol que se adormece. 
O fim de tarde que nos empardece o espirito, nos alimenta a consciência e nos oferece a melancolia. 
A visão desliga e o mistério ganha corpo.
O vestígio do calor permanece na memória das formas, nas essências e na sua matéria neste tempo de alento. 
Um último olhar como recordação. 
Mais um aviso de que há um fim. 
Mais uma volta na roda do que é incompreendido. 

Sol, dançamos descolados nesta dança de sombra e luz. 
Giramos em passo discreto mas acertado pelo palco da inexistência.
Completo em ti minha criação e vagueio em teu nome. 
Desenha uma eternidade perfeita, indeterminável suspiro a cada manhã.
És propulsor de vida e de razão. 
És conhecedor do tempo e de suas feições.
És em caso último a esfera certa que nos detém enquanto nos liberta.




quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Viver


Morrer está na moda, 
Morrer é banal…
Como correr e partir
É deixar de ser. 

Morrer é certo,
Contratempo
Com timing perfeito,
Tique taque que nos afronta.

Morrer é ser em matéria
Enquanto houver tempo.
Distância entre o corpo e a mente,
Momento inverso e infinito. 

Morrer não exige movimento,
Não pede licença
Nem tem arrependimento.
O morto é objecto. 

Morrer nem sequer é silêncio,
É um golpe de inexistencia,
Um género de cadência
Composta sem improviso. 

Viver é raro e original,
Objetos em movimento
Com consciência exceptional. 
Viver é chama acesa, 
Até que a morte aconteça.