terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Retalho


Entra! Repete na memória de ontem 
Os versos que o futuro nos relembra.
Aonde vamos nesta passada que nos foi?
Que final inacabado este de nossa criação?

Recorda-me! Recorta-me em traço de sonho.
Achega tuas promessas patéticas ao meu desejar.
Confronta minha alma e sombra. 
Nutre e despe o meu passado neste retalho de espectro.

Memória em regeneração. 






quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Novo dia


O tenebroso dia de chuva humedecia a terra que lamacenta se fez sob os meus passos cansados de tanto trilho talharem. Perdido no monte. Ali me achava acompanhado pelo cheiro dos pinheiros, pelo céu teimosamente negro, pela água fria e destemida na sua queda cerimonial. Nada me pertencia por entre as terras do Norte, até o tempo abjudicava o silêncio contra minha teimosia.
A marcha lenta se cumpria. Por entre os charcos rebeldes, sementes da tempestade, caminhava. Minhas mãos, frias de neve, carregavam meus haveres. O resto se perdeu na aldeia. A saudosa manhã que a infância entoou se arrumou no sótão das tralhas e a vida me impingiu o inverno contra o abismo.
O meu caminhar encarrilhado não se demovia de seu traço quase geométrico e planificado. Quando o fim da tarde se envaidecia, para me encobrir a força, repousava sobre os pinheiros bravos de dorso denso. O meu berço. Meus haveres, meu travesseiro. A noite congelava e a fogueira crepitava timidamente perdendo sua força pela madrugada.
O dia se fez em movimento lento. A manhã despertava limpa. Por toda a floresta persistiam os vestígios da tempestade. Pingos caiam acompanhados pela coreografia das árvores num acordar sedutor. A tempestade passou e a viagem se fez.
Dia após dia o caminho suavizou em seu decalque. A brisa cheirava a rio. A floresta já me pertencia. Seus cheiros e suas cores já me acompanhavam em minha memória. Os pássaros anunciavam uma nova chegada. A época das flores me renovou. O caminho me transformou.
Alcancei a tarde tão esperada. A maré me serviu de alento. Por aqui crescem novas flores todos os dias. Meu jardim, em que me recordo, celebra minha chegada.