sexta-feira, 27 de novembro de 2020

ATENÇÃO

A perfeita destruição das coisas, do mundo pelas suas formas, é sobriedade decalcada. Passo lento dos que se encolhem, em vínea delineada, sobre a dor que lhes teima em pertencer… sem que a dor lhes pertença. 
Nesta vitrine de enfeito sazonal nada se vê. Fachada ornamentada de perfeita aparência, cantiga bem cantada, realidade ignorada, passatempo do tempo que passa esperando a próxima estação. Cai o fruto, cresce a flor... perfeita cena sem mirada. Entretêm-se as vidas nas suas voltas. Aumentam-se as fugas, a diversão, gritam as dores da mente pela sua incompreensão. 
Nesta passagem premeditada que não escolhe a piedade ainda há quem procure a realidade e a sua admiração. A dor da noção. A força da lucidez onde o lugar invisível ganha nova vista. 
Saborear o fruto maduro, contemplar a flor desabrochada… sabor em perfeita condição, construção pelos sentidos, máxima perceção. 
Estás realmente a prestar atenção? 






domingo, 22 de novembro de 2020

Tenho uma saudade qualquer

tenho uma saudade qualquer
de uma coisa que não sei explicar,
de um lugar que não sei descrever,
sentido que me espera sem me adivinhar.

tenho uma saudade qualquer
que o futuro me quer contar 
mas que a memória não sabe rever,
nesta linha de tempo por confrontar.

talvez seja a saudade do que não vivi,
agarrado ao sonho de querer saber
dessa tramada vontade que eu não perdi:
a curiosa arte de querer viver.