sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Barulho

barulho é o que nos sobra,
é o que nos resta nesta rua de consumo leve.
barulho é intenção sem prazo
de um tempo que se desliga e transforma em vício.

barulho é desprovido de sensatez,
nasce sem reflexões adicionais.
mais um copo, mais um cigarro
nesta corrida animal que dança entre os olhares desconhecidos.

barulho é ser-se em sociedade,
o não barulho é parecer-se, costume de anormalidade.
o barulho abraça, encobre
e enaltece a descrença em que o silêncio acredita.

fugindo da calma e tremelejada paz
que não é aspirante do desejo, surge o barulho
de irrequieto e polifónico tom,
acordando a folia de quem o ouve.

haja barulho pois a lucidez cansa e desacredita o hábito.


sábado, 3 de outubro de 2015

Não Ser

recaio na persistência de me
querer ver à frente do que sou,
renuncia disfarçada de não querer
ser eu na forma a que me assisto.

vagueio no tempo que me resta 
circundando a contemplação
e o divino, a ilusão e o sonho,
a par da restante vida que se improvisa,
imóvel, só, sem carimbo de aprovação,
nem remetente tributário para esta desgraça
declarada e derrotista de mim
perante o destino.

ode realidade que me consome,
não há amanha que me espere,
só o cheiro a não ser me empesta neste
que é o verdadeiro sentido do eu.
não há passado nem futuro,
só o nada no agora me tem achado.