domingo, 27 de outubro de 2019

Fim


mais um golpe gélido que nos traspassa, 
neste sentido curto de ténue sobreviver. 
novas sementes que o tempo embaça,
neste formato descontinuado de ser. 

forma, corpo de função erguida,
molde em série de repetição.
retrato de sombra polida,
onde a dor é tradição. 

queimam-se dias,
ser de frenesim.
alegrias...
fim.

fim,
alegrias...
ser de frenesim.
queimam-se dias.

onde a dor é tradição,
retrato de sombra polida.
molde em série de repetição,
forma, corpo de função erguida.

neste formato descontinuado de ser,
novas sementes que o tempo embaça.
neste sentido curto de ténue sobreviver,
mais um golpe gélido que nos traspassa.




segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Dependência


despido e descoberto de pertença, formado e endireitado na fila dos crentes, dos que acreditam que ainda há salvação.
encarrilhado e silenciado no caos que se disfarça em esperança num destino descomposto de desejo encontrado, mas perdido. desencontro que sigo tão calmamente como os versos em que me dependo. remédio de paciência tomado a cada dia, em dose dupla. uma projeção regrada que não existe.
desarmado e desprendido do que me guia a frustração, do que não se arremata no leilão do desejo, do que não se vê, mas que se prova no amargo tempo que se desgasta. tempo que me fecha as cortinas, que me assusta apenas por existir. deixo-me perdido e entregue a ti, onde quer que me leves seguirei o teu gesto.
foi perfeito e ponderado o dia em que nos vimos, dia que não se definiu em momentos, dia que não se reclamou em afetos. esse dia foi teu. o dia que não vem. o tempo que não chega e que nos castiga. somos dependentes, doentes de tempo, perdidos na arte do desejar para além da distância em que o amor se encontra. somos o sorriso que não é nosso, somos o toque que não é meu. sou uma indisciplinada e não pertencente figura em forma de corpo em que se simulam todos os dejetos de saudade, afeto e solidão. maquina carnal, de rotação perfeita, sem corda ou pilha de combustão.
desencontrado e desajustado num fingimento de ser pessoa em representação do que isso pode ser. esforçado e trabalhador na arte da personificação para além da feiura das formas que me podem assistir. o demente com invólucro compreendido numa viagem singular.