sábado, 27 de dezembro de 2014

Meu Mundo

desejo suprimir o mundo numa nota,
canta-lo num silêncio.
fio de regra que alimenta
a sorte de o poder ter nas mãos,
nos sentidos,
em mim.
és meu,
enquanto meus olhos a mim pertencerem e
meus sentidos te criarem.
és meu
pois só eu assim te vejo e
com minhas cores te construo,
dando figura à realidade.
és tão minha verdade.
és a minha única certeza.
meu mundo,
enquanto souberes teu lugar
terás em mim toda a vontade
de te percorrer.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Corrente Capital

recolho-me assistindo à luta grosseira do mundo que se invade pela corrente capital,
bem querer tão sobejamente carimbado de altivez.
um rugir de papel, um luzir de metal na esquina de sempre
e perde-se a carne na fresca vontade de comer.
provam-se com paladar ávido os sentimentos
e o seu valor humano é capitalizado,
transformando em números o que não se consome,
nem se suprime.
já não cantam os poetas nem se permitem os lamentadores,
tudo se quer material, até a própria solidão se abnega.
recusa-se a dor e a paciência,
esquece-se a lealdade e a estima.
fuga perfeita para o cobarde,
seu egoísmo estóico disfarça a realidade.
o Ser fachada não canta,
o Ser fachada vive na canção do bobo que disfarça,
com sua pose, a penúria em que se entrega.
assisto distante para não me contagiar.
quero ser a realidade que me condena e que me ampara
e se a falha me assistir neste caminho que faço,
assumo desde já meu fracasso.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Andante

é tão pura e perdida
minha vontade de ser passagem
que rasga, navega sem ida
e canta gritando coragem.