sábado, 28 de fevereiro de 2015

Aqui se Constrói

do vazio replicado e retalhado da sombra ergue-se a matéria, uma sinfonia de formas que compõe o mundo, dando ao nada sua dimensão.
há uma luz, um lugar que nos acolhe, uma saudade que nos entristece e um desejo que nos dá vida. uma esperança que nos enquadra na engrenagem do mundo, construindo-o através do tamanho da nossa vontade.
nosso espaço, abrigo que nos protege, lugar interior que nos resguarda criando uma barreira para o medo, um filtro para o desconhecido, uma escala de controlo aparente que nos tranquiliza e nos enquadra com o resto do mundo.
vivemos o espaço, damos-lhes memórias, damos um cenário às sensações, uma certa coesão pessoal, uma extensão que nos suporta.
ocultamos a vida entre paredes, paramos e repousamos num abrigo que nos apela à autenticidade, onde a vida ganha conteúdo, livro escrito a cada dia.
o eu que se preserva do ruído cacofónico da rua ganha distância com o resto do mundo. da janela há uma diferente perceptiva, uma admiração, um quadro vivo que nos tranquiliza e nos espelha a multidão.
nosso mundo ganha nossas cores,
nosso universo material construído num empilhar de intenções. cadeiras empilhadas do nosso dia.


domingo, 22 de fevereiro de 2015

Lembrança

criança rebelde que voas pelo tempo,
corres por esse teu mundo incógnito
de voltas com a vontade.
terna lembrança.
nas horas que somam madrugadas
tu crias e vives mundos,
empilhas melodias,
ecoas refrões improvisados
onde só o eco da solidão te ouve.
imagina, se esse é o teu fruto
é deixa-lo madurar.
constrói o tal carrossel,
a tal engrenagem,
o tal mundo só teu.
dás mundos ao universo quando crias,
numa ilusão que se estranha,
de origem desconhecida.
há um lugar,
um mundo em cada criança.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Infinito

percorro numa linha de tempo o mísero fio de vida que destina
a maré que nos toca para além dos ventos que se prolongam na cadente satisfação dos sentidos.
nossa, tão pura, existência.
entre as formas há um sol que nos encobre,
que nos resguarda da sombra para além da nossa roda,
no vazio,
distante,
infinito
e desconhecido.
há uma constelação viva em cada deserto,
presa nos olhos de um fim de tarde,
num destemido presságio de fim,
impotente às mãos do homem.
quem acorda sabe do medo,
da ínfima vontade de procurar a precoce verdade que se perde em equações dicotómicas.
verdade que se revolta contra a essência do tempo.
quem sabe de nós?
solidão planetária
do silencio dos átomos que se conjugam.
procuramos entre a complexidade de mil resoluções,
a solução mecânica da vida.
jackpot constante,
repetido nas crenças,
justificado pelas regras.
eis nossa casa,
nosso único princípio e nossa sentença de fim.
procuramos mais,
perdemo-nos menos,
mas quando nos encontraremos?