sábado, 23 de março de 2024

Por mais um século

Fomos abandonados pelo excesso 
e no seu desgosto resta a sombra das árvores 
que não se inquietam com a multidão. 
 
Um homem espera o hábito
e, com uma pedra na mão, 
afugenta o silêncio. 
 
É apenas uma verdade distraída,
que caminha entre as ruínas
da propaganda inabitável.  
 
Essa casa vazia não se transforma em afeto. 
Existe uma falta absurda,
uma insónia persistente e fria.
 
Insólito? Não. 
Não julgo o espelho quando há cegueira. 
A ignorância de cabeceira tem vida curta. 
 
É irremediável este sono profundo.
O homem que adormece no caos, 
adia-se por mais um século. 

sexta-feira, 1 de março de 2024

Celebração

Nesta terra já não existe vida. 
Existe a morte e o seu contrário. 
Oposta ao sol, cuidar é ferida
Num corpo que resta, solitário. 

Armadilha na celebração do herói
Que pesa, por estes dias, dissimulada.
Uma paródia de cinza que destrói 
A justiça, vezes mil sepultada. 

Amontoado fim, disforme e pestilento.
Cobre as sobras com a justificação.
A verdade não se dá em alimento.
Falta fome de vida, celebração.