Delicado. Corrompido pelo dano de uma vida. Ser humano condenado mesmo que a vontade não o queira.
Parado, na sua cadeira, sente o tempo como ninguém. Não há ritmo que lhe toque, apenas a insatisfação crônica de querer pertencer à roda viva onde, quem a vive, já lhe sente repugne.
Sentado, Simão recorda e recorta mais uma memória. Uma, no meio de tantas memórias corrompidas. Não anda mas corre com as ideias. Escreve e pinta o que imaginação lhe sugere.
- Afinal não sou tão diferente! - grita Simão, de forma camuflada, em cada história que escreve. Necessidade de comprovação, num mundo que pouco olha e pouco vê.
Simão entrega-se ao transcendente, à procura de uma salvação divina. O divino não o ouve mas responde através da arte.
Sente a cada obra feita uma satisfação que o faz correr pelo mundo. Usando o que é, de facto, fundamental para andar: a esperança.
Será o corpo fundamental? Quando o corpo não responde existe a vontade e existem muitas razões para continuarmos a andar, mesmo que parados. Há um mundo por construir, um caminho por completar. Uma condição autêntica que pertence a cada ser e que ultrapassa a condição do momento. O verdadeiro ser! Condição sem forma mas com conteúdo.
Onde o corpo não chega a alma toca.