quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Aonde somos?


mais nada me chama para contar a história do passado que ficou preso no tempo. tempo esse que nunca existiu, que viveu presente na sombra de quem um dia se quis ver para lá do passado. nunca perdemos o futuro pois nunca o vimos. não se consome o que não se toca, o que não se tem. 
só há o ontem a fingir ser hoje. não há outro caminho a percorrer. só existimos a ver o ruído de sempre no tempo de sempre. tempo: estar presente num passado constante, instante que cheira a futuro mas que não existe. restos de ontem, é o que nos sobra. é o que de nos fica para o amanhã. 

onde para esse tempo que é nosso por direito? o dito presente? 
será que nós só existimos na consciência do passado? num lugar, presos a uma esfera? aonde somos neste universo?

gostava de me encontrar um dia. de saber quanto valem as minhas palavras e os meus gestos neste espaço que nos permite tanto mas que nos deixa tão pouco. 
desejo que este grito, esta explosão calada me liberte. desejo sair da terra, do meu lugar, do nosso lugar. do sitio onde as palavras têm lógica para ler mais, para ver mais. 

que céu tão longo nos deixaram para contemplar mas que tédio tão grande quando não vemos mais nada neste infinito que nos parece finito. 
procurar o inicio do universo, o fim do universo. o lugar do universo. 
tentar resumi-lo. tentar encontrar um ponto que lhe dê lógica. um ponto de conforto neste dito dia que não me conforta. 

quantos dias tem o infinito? de quantas manhãs ele é feito? as estrelas porque caminham e aonde vão? porque existem? 

todas as sombras possíveis existem no universo. todo o vazio é dele. 

grito com a esperança que me oiçam. não através destas palavras, nem com estas letras já gastas de tanto serem repetidas. grito pela vontade! 
que no infinito a vontade se transcreva e entenda a minha curiosidade. 

quero sair do meu lugar, do nosso lugar para ver o universo, para conhecer o que não se conhece como se a minha realidade pudesse ser aumentada dentro deste dia e desta noite que nos cansa o corpo e nos leva à morte.
quero pertencer ao universo da mesma forma que o vazio nele habita. 
sombra, sonho e luz. 
nada mais do que a total presença em lugar nenhum. o total espaço de não existir. se existo quero ter em meu entender tudo o que possa saborear enquanto não me levarem. 

um dia o universo vai apanhar-me, 
um dia eu apanho o universo.



sábado, 18 de agosto de 2018

Toque (de cor)

as cores que me vestem
neste tom tão demarcado
são feitas de palavras vedantes
neste verde já amadurado.

estas cores que me tingem
num toque de azul bordado
vivem dos olhares curiosos 
num quadro de tempo já desgastado.

estas cores em que a vida me escurece 
no vermelho da batalha
corroem minha obra inicial
de quem pinta como falha.

esta paleta de cores já usada
encobre-se dos sonhos de quem acredita
no toque de mãos que se confunde
nos tons que a vida possibilita.