sábado, 27 de setembro de 2014

Silêncio I

a solidão já não me assusta.
sozinho me acompanho nas noites de Outono.
que mal há em ouvir meu silêncio?
o não querer mais do que um ligeiro sussurro num lugar distante?
mas o medo me surge.
há portas que se fecham para o incógnito do não conhecer.
há receio de não conter as leis do outro num sentimento que não existe
e que ardentemente é procurado na fogueira do desconhecido.
carente, crente, sedente me entrego à corrente do não afecto.
há verdade no silêncio que magoa.
aquele silêncio que me acompanha pelas ruas,
aquele barulho que se oculta no ruído da cinzenta locomotiva que é Lisboa.
há uma tela de sonho pintada pela esperança,
aquela que se constrói na perfeita evolução do tempo.
quero ser plenamente eu nos limites do meu carácter,
encontrando a razão que me sara do medo.
que medo se traduz em tal carência?
procuro a resposta nas páginas que leio,
num achar-me, num encontrar-me de todo com a verdade.

sábado, 20 de setembro de 2014

Ode

Debilitado,
entre as janelas que se encerram no meu julgamento,
eu me movimento num dançar lento,
à espera da reconstrução da minha jangada de alento.
Na safra da procura de sentido me semeio.
No tempo que se desenquadra da estação me anseio,
frágil, impotente, impaciente.
Corre-me nas veias a perene busca de contentamento.
Quando houver silêncio lançarei minha bandeira branca sobre o vento
para me render ao juízo que se reinventa pelo tempo,
rebaixando-me uma vez mais à palavra semeada.
Sou aquela flor perdida num prado verde.
De luz me faço, ainda assim frágil,
com receio que o impulso me desfaça a ágil
folhagem com que o medo e a passagem
me ocultam do sol.
Prendi minha cedência no cais da incerteza,
Eis minha força perante tal tristeza,
ode incompleta que dá um novo rastilho à vontade de futuro,
aquela que se estende na viagem a que eu me aventuro,
que se prende na passagem entre os corações que se rematam à coragem.
Ode deserta, sem temperamento.
Que fugaz juiz me julga perante tal pensamento?
Que será feito da emoção se minh’ode recita o conhecimento?
Cuidado,
recita, sedente de futuro
a ode carente de presente,
avançando na contente
corrente de reconstrução.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sonho

Me acho aqui,
acordado neste sonho querido,
ermo, num sossego ruidoso
entre a regra da fome e
a sede caótica do outro,
entregue à canção do vazio,
num corpo vão de afecto,
onde só a ilusão me embala.
Há barulhos a mais na selva da melancolia,
no destino, nas palavras deixadas
nas marés de sol em que me perdi,
na infância apartada e sem ternura,
no rapaz isolado, incógnito em mim e
desamparado à luz do amor,
correndo o fundamento da calma
que me agita.
Quem em conhece não me encontra.
Quem me encontra não me conhece.