domingo, 12 de junho de 2022

Realidade

    Inventamos histórias inacreditáveis dentro do espaço em que habita a nossa presença e duração. Abraçamos a perfeita forma das coisas imaginadas e das suas causas impossíveis num enredo tão bem-talhado de encanto que perdemos a nossa natureza – a realidade. 
    Estamos perante uma comédia, um tanto que macabra, que nos obriga a inventar o espírito e a enfeitar a sombra com matinés de domingo. Os romances são pretensamente cortejados e escritos à pressa. Os poemas socorrem o entretenimento e não nutrem o discernimento. Um leitmotiv improvisado que nos embala no abraço desencontrado e no revés de cena por nós deliberado.  
    O sentimento descora a ação, mas tinge a nossa palavra dada, avidamente embaraçada. Camufla, de gestos, o entendimento e embeleza o objeto desejado – uma tragédia perfeita para um final que se quer inacabado. 

    Fechemos os olhos à realidade.