segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Corrente Capital

recolho-me assistindo à luta grosseira do mundo que se invade pela corrente capital,
bem querer tão sobejamente carimbado de altivez.
um rugir de papel, um luzir de metal na esquina de sempre
e perde-se a carne na fresca vontade de comer.
provam-se com paladar ávido os sentimentos
e o seu valor humano é capitalizado,
transformando em números o que não se consome,
nem se suprime.
já não cantam os poetas nem se permitem os lamentadores,
tudo se quer material, até a própria solidão se abnega.
recusa-se a dor e a paciência,
esquece-se a lealdade e a estima.
fuga perfeita para o cobarde,
seu egoísmo estóico disfarça a realidade.
o Ser fachada não canta,
o Ser fachada vive na canção do bobo que disfarça,
com sua pose, a penúria em que se entrega.
assisto distante para não me contagiar.
quero ser a realidade que me condena e que me ampara
e se a falha me assistir neste caminho que faço,
assumo desde já meu fracasso.

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