entendes as arestas da infelicidade e da decadência humana?
talvez foram os trilhos do tempo ido que desajeitado se fez
por esta vida, enjeitando e arrumando o dia como
desconsolo presente sobre a minha visão.
compreensão a mil ordens proferida,
desejada num acto de salvação a mim.
a quem te procuras nesta jornada?
há na indisponível salvação de quem nunca pertenceu a sorte de pertencer,
um desejo infinito de solidão compreendida onde o só que se abraça
a outro só é presente de forma ausente,
porque se quer ausente,
profundamente.
profundamente procuram-se os afectos
de quem familiar se faz.
como te procuras no outro?
procuram-se urgentemente as palavras que cresceram contigo!
os entendidos sabem lê-las. sabem entregar as mesmas palavras
como consolo e nelas te reconheces e repousas
como se a compreensão mais profunda se chegasse a ti.
como podes dormir com um olhar semelhante
se a tua semelhança se fez ao de longe?
longe estiveste, longe foste por mais que as horas te passassem pela
vontade de estar perto.
estar perto é desconhecido e o desconhecido é assustador.
como é viver assustado?
descobrir no outro aquilo que nunca nós vimos é enfrentar o destemido.
destemido eu que se vai minando de sentidos não vividos,
não abraçados à fuga artística sobre nós.
já não te sobram armas para a fuga!
e agora?
desarmado e desimpedido de filtros ainda não te encontras neste novo pertencer e já nem acreditas na longínqua ausência que foi tua por natureza.
o caminho te elevará num trajecto que se renova.
o que de nós for será o que de mim se encontrar e
o que de ti se permitir, numa doce e terna dança
de encontros onde os poemas não serão a fuga
nem o esconderijo para o solitário mas sim a
celebração da sua existência.
nada te garante a compreensão,
talvez nunca serás compreendido como os Deuses.
não procures a transcendência no outro,
ela é tua e só de ti deve nascer.
o teu encontro com a decadência humana
será teu, numa dúvida existencial que te dá vida.
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