despido e descoberto de pertença, formado e endireitado na fila
dos crentes, dos que acreditam que ainda há salvação.
encarrilhado e silenciado no caos que se disfarça em esperança
num destino descomposto de desejo encontrado, mas perdido. desencontro que sigo
tão calmamente como os versos em que me dependo. remédio de paciência tomado a
cada dia, em dose dupla. uma projeção regrada que não existe.
desarmado e desprendido do que me guia a frustração, do que não
se arremata no leilão do desejo, do que não se vê, mas que se prova no amargo
tempo que se desgasta. tempo que me fecha as cortinas, que me assusta apenas
por existir. deixo-me perdido e entregue a ti, onde quer que me leves seguirei
o teu gesto.
foi perfeito e ponderado o dia em que nos vimos, dia que não se
definiu em momentos, dia que não se reclamou em afetos. esse dia foi teu. o dia
que não vem. o tempo que não chega e que nos castiga. somos dependentes,
doentes de tempo, perdidos na arte do desejar para além da distância em que o
amor se encontra. somos o sorriso que não é nosso, somos o toque que não é meu.
sou uma indisciplinada e não pertencente figura em forma de corpo em que se simulam
todos os dejetos de saudade, afeto e solidão. maquina carnal, de rotação
perfeita, sem corda ou pilha de combustão.
desencontrado e desajustado num fingimento de ser pessoa em
representação do que isso pode ser. esforçado e trabalhador na arte da
personificação para além da feiura das formas que me podem assistir. o demente
com invólucro compreendido numa viagem singular.
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