quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sigo

por detrás do vidro gélido,
por detrás da ferrugem que recita o movimento,
eu sigo.
oculto num vagão de Comboio,
perdido entre as montanhas do norte,
eu sigo…
…sigo para não voltar.
viagem matriz a ser feita
quando só ruinas se defrontam na terra prometida.
deixei a minha parte:
olhei, sorri, amei, chorei e sofri.
a primeira vez.
ecoam as palavras quentes
no frio do costume, preso nas mil e uma razões.
sigo sozinho no vagão,
acompanhado somente pela alvorada fria,
pelo mesmo ruído constante que me relembra
a monotonia.
viagem da alma feita de passageiros, de passagens,
de vidas que me alentam num entra e sai persistente.
e eu permaneço sentado, entregue ao meu fado.
pensava que um dia te sentarias a meu lado.
seria bom mirar a paisagem da nossa viagem.
meus olhos, os teus… que viagem intensa e bela.
seriamos peados pelas linhas férreas do destino.
agora volto à viagem do silêncio.
o motor a carvão empurra-me para o incerto.
e tu saíste! saíste antes de atravessarmos
a ponte do fim.
voltarei,
voltarei à mesma casa de sempre.
aquela de onde partiram teus olhos,
de onde se cortaram as palavras mal ditas
com a fervura da mágoa.
guardemos essas palavras no infinito.
deixemos de parte as mil canções que falavam do pôr-do-sol.
atiremos pela janela as dezenas de fotos que não tiramos,
as noites de verão que não passamos juntos,
as fugas, as discussões e as horas de reconforto que genuinamente nos prendiam.
para seguirmos unidos, quem sabe… de uma outra forma.
a viagem segue a todo o vapor.
não sei quantas paragens me reservam,
quantos sorrisos ou solavancos me estão destinados.
e eu sigo.
eu sigo,
eu sigo como sempre.
presenciando o monótono embalo universal.
“Cada um viveu tanto quanto amou.”
Lev Tolstoi


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