segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Manifesto

tenho andado queimado pela abstracção,
aquela que dissimula o que por dentro ainda pouco fervilha,
a estúpida ansiedade.
que grito procuras?
que queres de mim, minha insensata afronta de criança inquieta?
porque escolheste a minha rua?
porque entraste em mim em cada passo de vida?
grita!
se és mais celebre, grita,
mas não me enfraqueças porque não quero mais esta luta.
minha recusa é tua, meu repugne é teu,
até porque és cada vez mais frágil,
sua asna condição de nascença.
não te dou mais nada,
por muito que te alimentes de mim já te conheço.
foi preciso desabar para te saber,
sua cobarde, sua perversa de engenho.
enquanto me acompanho só,
enquanto me encontro com minha própria compreensão,
te destruo.
vais ficando cada vez mais irrisória, mais débil.
se não te alimento vais acabar por morrer
e é bom que morras, inteiramente!
tenho aprendido a solidão como uma nascente de crescimento profundo,
bebendo dela a secura do que ainda não domino.
não te subjugo, não te condeno,
mas vais voltar à ordem,
maldita ansia.
megera!
quero-te calada!
quero-te sentada no mesmo lugar da aflição dos outros, quieta!
vejo que ainda não tiraste sentido ao significado de quietude
mas serei mais paciente do que a tua impaciência,
serei mais calmo do que o teu bramido ridículo
e assim cairás insignificante.
quando te ganhar serei eu completamente,
sem ruídos de fundo.
aquele que tu conheces.
sem a cobarde gritaria que me importuna esta tão calma
melodia de querer ser eu e tu em perfeita melancolia.

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